Pesquisas indicam que o Brasil tem 48 grandes falhas tectônicas em seu território, e várias cidades estão exatamente em cima delas.
Por muito tempo divulgou-se a ideia de que no Brasil não ocorrem terremotos. Esse consenso vem do fato de os abalos sísmicos no Brasil não terem a intensidade dos que acontecem em outros países, como no Japão e nos Estados Unidos, e raramente causarem estragos significativos, mas estudos aprofundados mostraram que isso não é verdade.
Para entender os terremotos e a ocorrência deles no Brasil é preciso compreender as chamadas falhas geológicas (também conhecidas como falhas tectônicas), estruturas da crosta do planeta que dão origem aos terremotos. Recentemente, uma delas chamou atenção dos cientistas por liberar um líquido muito estranho.
Tais formações geológicas existem no Brasil, e várias cidades do país estão em cima delas, segundo estudos geológicos recentes. A grande diferença é que o Brasil está praticamente no centro da Placa Tectônica Sul Americana, o que torna mais raras as possibilidades de tremores mais fortes, geralmente registrados nas bordas dessas placas de tamanho continental.
Porém, mesmo uma placa sólida como a do nosso continente apresenta falhas — a maioria invisível da superfície.
Uma pesquisa do Instituto de Geociências da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) identificou 48 falhas geológicas mestras no território nacional, “algumas delas com quilômetros de extensão”, segundo o professor Allaoua Saadi, coordenador da pesquisa publicada em 2002.
Segundo o cientista, a maioria das falhas está no Sudeste e Nordeste do território nacional. Mesmo com tal mapeamento, é praticamente impossível prever onde ocorrerão terremotos, ou qual seria a intensidade deles, mas é certo afirmar que é nessas regiões do país que os terremotos terão seu epicentro.
A falha geológica de San Andreas, na Califórnia, a mais famosa do mundo, é visível da superfície
FLICKR/DOCSEARLS (SOB LICENÇA CREATIVE COMMONS)
Abaixo, listamos sete cidades brasileiras localizadas exatamente em cima de falhas geológicas, em regiões diversas do território do país. No entanto, a localização não significa que a população deve ter medo, uma vez que algumas dessas falhas não apresentam atividade significativa há milênios.
1 – João Câmara (RN)
A cidade de João Câmara está localizada na Falha de Samambaia e já registrou diversos tremores de terra. Em agosto de 2022, moradores sentiram nove abalos sísmicos na cidade.
Segundo a UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), a Falha de Samambaia é considerada a maior do tipo no Brasil, com 38 km de comprimento, 4 km de largura e profundidade que varia de 1 a 9 km.
Além de João Câmara, estão sobre a falha as cidades de Parazinho, Poço Branco e Bento Fernandes, que constantemente registram abalos do tipo.
2 – Itacarambi (MG)
Minas Gerais é o estado brasileiro que registra mais atividades sísmicas. Segundo mapa tectônico elaborado pelo professor Saadi, sete falhas geológicas cortam o estado (são elas: BR 24, 25, 26, 27, 28, 29 e 47).
A 47 está localizada no norte do estado, exatamente abaixo do município de Itacarambi, que registrou um terremoto de 4,9 graus na escala Ritchter em dezembro de 2007.
Mapa mostra que o Brasil está no centro de uma placa tectônica
SERVIÇO GEOLÓGICO DOS ESTADOS UNIDOS (DOMÍNIO PÚBLICO)
Seis pessoas ficaram feridas e uma menina de 5 anos morreu no evento geológico.
3 – Cubatão (SP)
A falha de Cubatão, descoberta em 1987 no litoral de São Paulo, faz parte de um sistema de mais de 2.000 km de extensão, com uma rede de falhas diferentes entre si, e que foi nomeado Sistema de Falhamento Cubatão.
Apesar do tamanho e de estar abaixo de uma região industrial, pesquisas indicaram baixo risco de possíveis terremotos iminentes nesse sistema — a estrutura esteve comprovadamente ativa entre 400 e 10 mil anos atrás, segundo os estudos.
4 – Porangatu (GO)
O município de Porangatu, no norte de Goiás, é outra cidade em cima de falha geológica brasileira, a qual leva o nome da cidade (Zona de Falhas de Porangatu). Em abril de 2022, um terremoto de 3,7 pontos na escala Richter assustou os moradores durante a madrugada.
Em outras ocasiões, tremores mais intensos chegaram a ser sentidos em Goiânia e até em Brasília, como o ocorrido em outubro de 2010.
5 – Taruacá (AC)
Esta cidade do Acre
está muito próxima do epicentro do maior terremoto já registrado no Brasil — 6,5 graus na escala Richter, em junho de 2022. Taruacá também é o município do estado com mais ocorrências de abalos sísmicos. Tudo porque está em cima da Falha de Taruacá, que corta o estado em duas partes.
Aparelhos conhecidos como sismógrafos medem a intensidade dos terremotos
EFE/ROLEX DELA PENA
Apesar dos abalos constantes na região, a profundidade deles passa dos 500 km, o que diminui a chance de danos e de eles serem percebidos pelos moradores. Somente em 2015, ano em que estudos completos foram feitos na região, mais de 15 terremotos foram sentidos na cidade.
Ajuda também o fato de a cidade estar próxima de duas placas tectônicas muito ativas: a Sulamericana e a de Nazcar, ambas nos Andes.
6 – Vale do Jaguaribe (CE)
Uma grande falha geológica sob a cidade cearense, distante 300 km de Fortaleza, gera terremotos considerados de baixa magnitude. Alguns dos mais recentes ocorreram em março de 2016, com magnitudes de 3,1 e 3,4 graus na escala Richter.
A suspeita de pesquisadores é que a água de um açude na região, que se infiltrou na falha, pode estar aumentando o número de abalos.
Curitiba é a única capital brasileira em cima de uma falha geológica
PIXABAY
7 – Curitiba (PR)
A região Sul é a que menos tem falhas geológicas no Brasil. Apesar desse dado, Curitiba é a única capital do Brasil diretamente em cima de uma falha geológica — a mesma que atravessa Cubatão.
No entanto, é mais comum que cidades no entorno da capital paranaense registrem terremotos. São Jerônimo da Serra, a 351 km de Curitiba, sofreu um abalo de 5,1 graus em setembro de 2017.
Outros dados mostram que entre 2006 e 2019 o estado registrou sete terremotos de magnitude elevada.
Fonte|Créditos: noticias.r7.com TECNOLOGIA E CIÊNCIA | Filipe Siqueira, do R7