O engenheiro agrônomo José Alves Caetano se foi, vitimado pela Covid, mas sua brilhante trajetória como homem honrado, engenheiro, pai e marido amoroso, merece uma reflexão de como ele contribuiu para desvendar um sistema pernicioso e corrupto.
A o edital publicado para a “eleição” do diretor financeiro da Mútua, em Minas Gerais, no corrente ano de 2021, acorreu apenas o candidato José Alves Caetano como interessado. Por sinal, ele já exercia, na mesma entidade, o cargo de diretor administrativo. Tendo em vista que cumpriu todas as condições de elegibilidade e não incidia em nenhuma hipótese de inelegibilidade, sua candidatura foi deferida pela Comissão Eleitoral Federal, do Confea. No modelo eleitoral previsto, caberia ao Plenário do Crea-MG elegê-lo, ou não. Cumpre apenas lembrar que bastaria um voto entre cerca de 130 para ser eleito.
José Alves Caetano, que todos conhecíamos por Zé Caetano, era engenheiro agrônomo e empresário em Uberlândia.
primeiro, para assistir-lhe na defesa da denúncia. Em seguida, confidenciou estar vivendo, no centro do poder, uma enorme pressão para desistir da candidatura. Citou nominalmente alguns colegas dele, valendo, porém, destacar que o próprio presidente Lucio Borges foi quem lhe sugeriu, assim, na lata, a desistência do pleito, sem maiores explicações.
Zé Caetano, que nunca houvera sentido a dor da rejeição, sentiu-se humilhado e pensou em desistir. Eu apenas disse a ele que esse não era o perfil dele, nem era o caminho, e que ele deveria lutar até o fim pelos seus objetivos. Ele acatou a sugestão e seguiu em frente. A eleição estava marcada para o início do mês de outubro de 2020.
“Os homens são bons de um modo apenas, porém são maus de muitos modos” (Aristóteles, Ética a Nicômaco)
Exerceu, ao longo dos últimos 20 anos, os cargos de inspetor, conselheiro regional, diretor do Crea-MG e das entidades de classe SMEA e Agrotap. Era um entusiasta ativista das hostes do Crea-MG. Iniciou suas atividades na gestão Marcos Túlio, passando pelas do Gilson, Jobson e do Lucio Borges. Dele nunca se viu ou ouviu qualquer gesto agressivo ou de intransigência. Era um piadista inveterado, brilhante, desses que a gente gosta de ter ao lado. No desempenho das suas funções, entretanto, era uma pessoa dedicadamente respeitosa, séria e consciente dos seus deveres. Zé Caetano era um purista em tudo o que fazia.
Todavia, sua trajetória rumo ao cargo que disputava começou a apresentar algumas surpresas. A primeira delas veio através de uma denúncia estapafúrdia da fiscalização da Regional Triângulo, que o denunciou por infração ao Código de Ética, sob a alegação de que assinara um atestado técnico inverídico em favor do engenheiro civil Maurício Lambertucci, e, por mais que este tenha esclarecido as razões do episódio, o processo seguiu em frente.
Após idas e vindas, os autos foram arquivados na Câmara de Agronomia, por unanimidade, o que representou um alívio ao profundo desconforto que o Zé Caetano estava sentido. Contudo, como ele exercia cargo no Sistema, os autos seguiram para apreciação também do Plenário. E aí – surpresa! – houve um pedido de vista do conselheiro regional Welhiton Adriano de Castro Silva, opinando pela aplicação de censura pública pelo prazo de 36 meses. O desatencioso Plenário do Crea-MG acatou a sugestão, mesmo à míngua de previsão legal.
Inconformado, decepcionado e triste, Zé Caetano recorreu ao Confea, que acatou as razões da sua defesa, determinando, post mortem, o arquivamento dos autos. Com isto, a memória do nosso saudoso Zé Caetano ficou livre da esdrúxula pena que o Crea-MG lhe aplicara. Após esta longa explanação, é o momento de esclarecer os fatos. O dileto e inesquecível amigo Zé Caetano procurou-me,
Contudo, a ordem dos trabalhos da plenária, naquela data, foi alterada, colocando-se a votação como último item da sessão. Ocorre que, sob orientação superior, grande parte dos conselheiros regionais se ausentou, injustificadamente, e, em razão da falta de quórum, a plenária foi cancelada sem que tivesse havido a eleição.
Seguiram-se justificativas implausíveis e inverídicas do Crea-MG e a nova data da eleição foi remarcada para o dia 7 de outubro último. Tragicamente, porém, o estimado amigo Zé Caetano tombou vítima da força de outro inimigo: a Covid 19, vindo a nos deixar antes do tempo, em 15 de maio de 2021.
Para os que arquitetaram os planos maquiavélicos contra o Zé Caetano, parecia o golpe perfeito. Era até possível sentir-lhes suspirando de alívio, pois, com a ausência do candidato único, outro haveria de lhe suceder. Qual não foi a surpresa quando, na vacância da candidatura, sobreveio o nome de ninguém menos que Welhiton Adriano de Castro Silva como candidato. Ou seja, o mesmo conselheiro que, em Plenário, pedira vista dos autos para sugerir a aplicação de uma esdrúxula e inexistente pena de censura pública ao Zé Caetano, o que, na prática, o impediria de assumir o cargo.
A história é inacreditável e certamente não perdoará os envolvidos! Posso afiançar que ouvi o dileto amigo Zé Caetano, aventar, várias vezes, a hipótese que veio a se confirmar. Dizia ele: “Antônio, o que me parece é que há um complô contra mim, não sei por que razão, e o Welhiton agora está de olho na vaga de diretor financeiro. Aliás, tive uma conversa com o Lucio e ele me disse que era melhor eu desistir.” Moral da história: quem merecia ser denunciado por infração ao Código de Ética: Zé Caetano, Welhiton ou Lucio Borges? Ou alguns do Plenário do Crea-MG? Estou ao dispor da Comissão de Ética para ser ouvido como testemunha e esclarecer os fatos. A família do Zé Caetano, também.
* Este texto não expressa, necessariamente, a opinião da ABRAEI.