(Foto: zhu difeng/Shutterstock)
Entenda quais são os impactos da acústica e os principais cuidados a serem adotados em projetos corporativos.
Apesar de não ser o único fator associado ao bem-estar e à produtividade, a acústica exerce um papel importante no desempenho dos usuários de ambientes corporativos. De acordo com alguns estudos, apenas 30% das pessoas que trabalham em escritórios estão satisfeitas com os níveis sonoros no ambiente de trabalho.
“A produtividade está associada a muitos fatores, como às boas políticas das empresas e a um bom ambiente de trabalho. Mas é inegável que a acústica também é um fator determinante para a qualidade de vida dos trabalhadores no mundo corporativo”, ressalta José Augusto Nepomuceno, consultor principal da Acústica & Sônica.
Além do barulho dos equipamentos, dos sistemas de instalação predial e da poluição sonora externa à edificação, os ruídos gerados pelas conversas figuram entre as principais causas de distração nesses ambientes.
“A falta de privacidade acústica entre as estações de trabalho é uma fonte importante de desatenção. Em escritórios abertos, a fala chama a atenção das pessoas, que acabam se distraindo porque o cérebro tenta decifrar estas conversas mesmo que elas não sejam relevantes”, explica o consultor.
Outro problema muito comum é o uso de materiais de baixa absorção acústica, tornando os escritórios muito reverberantes. Nesses casos, as conversas acabam sendo percebidas como ruídos elevados incomodando e, não raramente, ocasionando dor de cabeça e cansaço às pessoas.
Expectativas e estratégias alinhadas
Eliminar ou minimizar essas condições é uma tarefa para o consultor acústico. Para que o projeto seja bem-sucedido, no entanto, é fundamental que o trabalho desse profissional esteja alinhado com às demandas do arquiteto e/ou designer de interiores.
“É preciso alinhar o layout proposto ao layout considerado ideal. Felizmente, na minha experiência profissional, a coordenação entre intenções de acabamentos e soluções de revestimentos usualmente ocorrem com sucesso. São muitos raros os casos em que a arquitetura proposta não tem espaço para incluir as recomendações de acústica. O contrário também é verdadeiro, na maioria das vezes conseguimos resolver a acústica na arquitetura”, conta Nepomuceno.
Vale observar que a configuração espacial e de layout também são dois aspectos rigorosamente fundamentais para a definição da acústica em escritórios.
Além de considerar aspectos como número de pessoas e atividades a serem executadas no local, o ideal é que durante a fase de estudo e planejamento do layout o projetista tenha os cuidados de separar e organizar as pessoas por grupos de trabalho.
Assim é possível afastar atividades que exigem foco e concentração de locais com interação de conversas telefônicas frequentes. “Nestes casos, a criação dos phone booths foi uma evolução importante para reduzir interferências entre diferentes grupos de trabalho”, explica o consultor.
Os phone booths nada mais são do que áreas reservadas, pequenas e de curta permanência dentro dos escritórios com o objetivo de criar um ambiente privativo e garantir o sigilo de conversas e informações.
Já para reduzir o raio de conversas com potencial de distração, as soluções podem ser o agrupamento e a diminuição das distâncias entre grupos que mantêm diálogos e intervenções comuns ou a criação de zonas de colaboração. Criar espaços de descompressão distantes das zonas de concentração também é uma ótima estratégia para garantir a qualidade acústica do ambiente.
Especificação e soluções acústicas para escritórios
De acordo com Tamara Serrano, coordenadora de produto da Ecophon Saint-Gobain, os fabricantes podem orientar os clientes sobre as soluções acústicas oferecidas no mercado, destacando suas características técnicas, seu desempenho e oferecendo as indicações corretas para as áreas de aplicação.
“Mas sem um projeto de um consultor acústico, não conseguimos analisar e mensurar qual é a composição e quantidade de soluções que irão atender a todas as necessidades do ambiente e do projeto”, alerta a coordenadora de produtos.
Com a ajuda desse profissional, é possível encontrar diversas soluções. Conheça alguns destaques:
- Forros removíveis acústicos
- Forros, revestimentos e painéis de madeira
- Nuvens e baffles
- Placas planas
- Carpetes
- Elementos de acabamento
FORROS REMOVÍVEIS ACÚSTICOS
São fáceis de instalar e de manter, apresentam grande funcionalidade para paginação, cores e modulação nos ambientes e boa relação custo-benefício. Geralmente, possuem elevada absorção em frequências médias e altas, sendo efetivos para aplicações com uso predominante da fala.
FORROS, REVESTIMENTOS E PAINÉIS DE MADEIRA
Apresentam estética mais sofisticada e padrões de acabamentos amadeirados variados envolvendo diferentes perfurações, frisos, e sistemas que podem auxiliar na absorção de frequências mais específicas emitidas por equipamentos e sonorizações.
NUVENS E BAFFLES
Podem ser aplicados em ambientes preexistentes, sem a necessidade de obras. Possuem altos coeficientes de absorção, variada gama de formatos, cores e, por serem suspensos, beneficiam ambientes com pé-direito mais elevado.
PLACAS PLANAS
Material colado de fácil instalação, permite criar paginações com maior liberdade, sem necessidade de grandes obras. É uma solução prática e rápida para correção acústica de espaços.
CARPETES
Usados nos pisos, podem auxiliar na propagação de som e reduzir ruídos provocados por pessoas andando. Porém, o carpete não tem grande relevância no aumento da privacidade acústica da fala.
ELEMENTOS DE ACABAMENTO
Elementos como cortinas, painéis divisores de mesa, móveis especiais e cabines parciais podem diminuir a propagação de som, sem maior impacto no aspecto estético do escritório.
Checklist para especificação de soluções acústicas para escritórios
- Reconheça as principais fontes de ruído nestes ambientes;
- Conheça os tipos de forros e revestimentos indicados para projetos corporativos;
- Use elementos complementares como piso, tapetes, cortinas e mobiliários que ajudam na absorção acústica;
- Analise o ambiente com as suas respectivas sensibilidade e funcionalidade, seguindo o programa de necessidades e layout do projeto;
- Entenda o programa de uso do espaço, estude o projeto arquitetônico e o fluxo de circulação e de concentração de pessoas;
- Siga à risca os cálculos e as especificações indicados no projeto acústico;
- Faça uso de soluções que atendam as normas do corpo de bombeiros referentes à resistência ao fogo.
Créditos: aecweb | Texto: Gisele Cichinelli | Colaboração Técnica José Augusto Nepomuceno e Tamara Serrano